Análise do posicionamento da Suécia frente ao Capítulo de Comércio e Desenvolvimento Sustentável (TSD) do Acordo de Associação UE-Mercosul

Lara Amorim de Noronha Xavier*

Introdução

Como nação da aurora boreal, símbolo de inovação e compromisso democrático, a Suécia reafirma seu papel ativo na promoção do comércio internacional sustentável e na defesa do multilateralismo [1]. O país, estruturado sob uma democracia parlamentar e monarquia constitucional, com o rei Carl XVI Gustaf como chefe de Estado e o primeiro-ministro Ulf Kristersson como chefe de governo, mantém instituições sólidas e transparentes, que refletem sua tradição de diálogo e cooperação [2].

Após um período de atividade econômica moderada, a economia sueca apresenta sinais de estabilidade para 2025, com inflação controlada e expectativa de recuperação gradual em 2026 [3]. A consolidação do sistema de bem-estar social e das políticas de igualdade de gênero reforça o modelo sueco de desenvolvimento sustentável, no qual a abertura econômica se alia à justiça social [4]. Nesse contexto, o Acordo UE–Mercosul é visto não apenas como um instrumento de expansão comercial, mas também como uma oportunidade de fortalecer parcerias internacionais que respeitem padrões ambientais e trabalhistas elevados, alinhando-se aos valores e compromissos da Suécia dentro da União Europeia [5].

Contextualização

Com uma economia aberta e fortemente orientada ao comércio exterior, a Suécia baseia-se em recursos naturais como madeira, minério de ferro e energia hidrelétrica, além de uma indústria de alta tecnologia e manufatura avançada, que responde por parcela expressiva das exportações [6]. O consumo das famílias segue sendo um dos principais motores da economia, acompanhado pelo consumo governamental e pelos investimentos em capital [7]. O comércio internacional desempenha papel fundamental. Em 2024, as trocas entre a União Europeia e o Mercosul alcançaram €112,3 bilhões, com participação sueca estimada entre 0,2% e 0,3% [8]. As exportações suecas concentram-se em automóveis, peças, produtos farmacêuticos e equipamentos industriais, enquanto as importações abrangem café, cobre e produtos agrícolas [9]. Ainda que a indústria automotiva tenha relevância, a Suécia apresenta baixa dependência de setores sensíveis ao acordo, mantendo-se favorável ao livre comércio e à cooperação multilateral [10].

O país enxerga no Acordo UE–Mercosul oportunidades significativas para expandir exportações e reforçar a competitividade de setores estratégicos. Em 2023, figurou entre os principais parceiros comerciais da União Europeia no intercâmbio com o Mercosul, destacando produtos químicos, veículos, máquinas e papéis, além de nichos agrícolas como vodka e óleos especiais [11]. Entretanto, reconhece desafios decorrentes da abertura comercial, sobretudo para segmentos da pecuária e avicultura, cujos custos são elevados devido a padrões ambientais e sociais rigorosos [12]. Apesar de a produção de carne bovina e de frango não ser expressiva, a redução de tarifas e a criação de cotas podem afetar nichos específicos e gerar preocupações pontuais sobre emprego. Tais questões são frequentemente debatidas pela opinião pública e pela imprensa sueca, que ressaltam riscos ambientais como o desmatamento e práticas agrícolas prejudiciais [13].

A posição oficial do governo e do parlamento sueco é amplamente favorável ao acordo. O ministro de Comércio Exterior, Benjamin Dousa, defende que o tratado abre novos canais de comércio e fortalece parcerias internacionais, posição também sustentada pela ministra Maria Malmer Stenergard [14]. No Parlamento, a maioria apoia a ratificação, ainda que partidos de oposição, como o Social-Democrata (S), o da Esquerda (V) e o Verde (MP), insistam na priorização de critérios de sustentabilidade e direitos trabalhistas [15]. No Parlamento Europeu, observa-se apoio majoritário dos eurodeputados suecos ao acordo, em especial dos representantes do grupo Renew Europe, como Karin Karlsbro, que defendem o fortalecimento de parcerias estratégicas e o comércio aberto [5]. Já parlamentares de esquerda, como Hanna Gedin (The Left), manifestam preocupações ambientais e sociais, sobretudo sobre pesticidas e direitos trabalhistas [16].

A sociedade civil também participa ativamente do debate. Organizações como Jordens Vänner (Amigos da Terra Suécia) lideram a oposição, criticando o tratado por contrariar compromissos ambientais e alertando para impactos econômicos e climáticos [17]. Em contrapartida, a Federação Empresarial Sueca (Svenskt Näringsliv) apoia a ratificação, destacando o acesso a um mercado de quase 700 milhões de consumidores e a ampliação das oportunidades de investimento [18]. Nas prioridades de negociação, o país mantém posições inegociáveis ligadas à preservação ambiental, segurança e direitos fundamentais. Há flexibilidade apenas em temas tarifários e regulatórios, desde que gerem benefícios econômicos claros [4]. Sua estratégia de intervenção combina dimensões econômica, ambiental e social, buscando conciliar crescimento, competitividade e sustentabilidade.

Conclusão

A análise da posição sueca em relação ao Acordo UE–Mercosul revela uma política comercial pragmática e equilibrada. O país busca ampliar oportunidades econômicas e fortalecer parcerias internacionais, sem abdicar de seus elevados padrões ambientais e sociais [2]. Embora reconheça desafios em setores agrícolas, a Suécia mantém-se como uma das defensoras mais consistentes da integração econômica e da cooperação multilateral no âmbito europeu [5]. Assim, sua postura reflete a tentativa de conciliar comércio livre com justiça social e responsabilidade ambiental, reafirmando o compromisso sueco com um comércio internacional sustentável e ético.

Referências
[1] OECD. OECD Economic Surveys: Sweden 2025. Paris: OECD Publishing, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1787/75e94b2f-en.
[2] European Union. Sweden. Disponível em: https://european-union.europa.eu/principles-countries-history/eu-countries/sweden_pt.
[3] Eurostat. GDP by quarter. Disponível em: https://ec.europa.eu/eurostat/databrowser/view/NAMQ_10_GDP.
[4] Government.se. Five free trade agreements the EU should sign in 2025. Disponível em: https://www.government.se/opinion-pieces/2025/06/five-free-trade-agreements-the-eu-should-sign-in-2025/.
[5] European Parliament. EU–Mercosur partnership agreement: Renew Europe MEPs welcome the start of the formal ratification process. 3 set. 2025. Disponível em: https://www.reneweuropegroup.eu/news/2025-09-03/eu-mercosur-partnership-agreement-renew-europe-meps-welcome-the-start-of-the-formal-ratification-process.
[6] OEC. Sweden. Disponível em: https://oec.world/en/profile/country/swe.
[7] Trading Economics. Sweden full year GDP growth. Disponível em: https://pt.tradingeconomics.com/sweden/full-year-gdp-growth.
[8] WEBGATE EC Europa. Mercosur factsheet. Disponível em: https://webgate.ec.europa.eu/isdb_results/factsheets/region/details_mercosur-5_en.pdf.
[9] Kommerskollegium. Summary: EU–Mercosur agreement. Disponível em: https://www.kommerskollegium.se/globalassets/publikationer/rapporter/2020/mersocur-en-summary.pdf.
[10] Reuters. What’s the EU–Mercosur deal and why is it contentious? 3 set. 2025. Disponível em: https://www.reuters.com/business/whats-eu-mercosur-deal-why-is-it-contentious-2025-09-03/.
[11] Crop.Zone. Mercosur impact on EU agriculture. Disponível em: https://crop.zone/en/blog/mercosur-impact-on-eu-agriculture/.
[12] Association of Poultry Processors and Poultry Trade in the EU (AVEC). Explaining why the safeguard clause in the Mercosur agreement fails to protect the EU poultry meat sector. 2025. Disponível em: https://avec-poultry.eu/news/explaining-why-the-safeguard-clause-in-the-mercosur-agreement-fails-to-protect-the-eu-poultry-meat-sector/.
[13] Regeringen.se. Bistånds- och utrikeshandelsminister Benjamin Dousa uppmanar EU att slutföra förhandlingarna om ett handelsavtal med Mercosur. 2024. Disponível em: https://www.regeringen.se/pressmeddelanden/2024/11/bistands–och-utrikeshandelsminister-benjamin-dousa-uppmanar-eu-att-slutfora-forhandlingarna-om-ett-handelsavtal-med-mercosur/.
[14] Brasil de Fato. Finlândia e Suécia querem acordo UE–Mercosul para combater “tarifação França”. 8 abr. 2025. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2025/04/08/finlandia-e-suecia-querem-acordo-ue-mercosul-para-combater-tarifaco-franca-e-contra.
[15] European Parliament. Search MEPs – Sweden. Disponível em: https://www.europarl.europa.eu/meps/en/search/advanced?countryCode=SE.
[16] Press Newsmachine. Frihandelsavtal mellan EU och Mercosur fortsatt fördröjt efter civilsamhällets protester. Disponível em: https://press.newsmachine.com/pressrelease/view/frihandelsavtal-mellan-eu-och-mercosur-fortsatt-fordrojt-efter-civilsamhallets-protester-33008?lang=en.
[17] Amazon Watch. Stoppa EU-Mercosur. 20 maio 2021. Disponível em: https://www.amazonwatch.se/nyheter/2021/5/20/stoppa-eu-mercosur.
[18] Svenskt Näringsliv. EU–Mercosur trade agreement position statement. Disponível em: https://www.svensktnaringsliv.se/.

*Lara Amorim de Noronha Xavier
Graduanda em Comércio Exterior – Universidade de Fortaleza (UNIFOR). ORCID: 0009-0009-7326-5898. Lattes: https://lattes.cnpq.br/0012295773020835