Luan Werneck Cesar Mathias da Costa*
Incluído como membro da União Europeia em 2007, no esforço de alargamento da entidade em que outros países dos Balcãs foram também adicionados como membros da entidade, a República da Bulgária vem participando efetivamente do bloco e buscando formas de diversificar e dinamizar sua economia através da UE. Sendo uma ex-República Soviética e com uma entrada tardia na UE, apesar de características antidemocráticas presentes em seu governo, é visto um interesse latente em seus líderes em buscar oportunidades que beneficiem a economia búlgara, inclusive o Acordo de Livre Comércio União Europeia-Mercosul.
Ao longo das últimas décadas, sobretudo a partir do fim da Guerra Fria, a Bulgária tem direcionado seus esforços para ações que promovam o crescimento econômico, a modernização de sua estrutura produtiva e o desenvolvimento científico e tecnológico do país. De uma economia majoritariamente agrícola na segunda metade do século XX, o país se transformou em uma nação com mais de sete milhões de habitantes, apoiada em setores de serviços e indústria, que hoje representam mais de 90% do seu PIB. Suas principais bases econômicas são os serviços, turismo, tecnologia da informação e logística, e a indústria, em áreas como energia, mineração e maquinário. A agricultura, que já foi o motor principal da economia, responde atualmente por cerca de 5% do PIB nacional, ainda mantendo importância social e regional, mas sem o mesmo peso econômico de outrora.
Para a Bulgária, o Acordo União Europeia–Mercosul é uma ferramenta essencial para consolidar o desenvolvimento socioeconômico e tecnológico que almejamos. A possibilidade de ampliar o comércio com o continente sul-americano de maneira mais simples e menos onerosa representa uma oportunidade única para diversificar mercados e criar novos fluxos de comércio. Os setores industriais, em especial os ligados à maquinário, mineração, químicos e derivados de petróleo, poderão expandir significativamente o alcance de suas exportações, beneficiando toda a economia nacional. Ao mesmo tempo, o governo bulgáro reconhece que há riscos envolvidos, sobretudo para setores agrícolas que poderão enfrentar maior competição. Ainda que a agricultura representa parcela pequena do PIB, os impactos sociais em determinadas regiões são destacados. A opinião pública e a imprensa búlgara têm acompanhado o processo com expectativa positiva, considerando o acordo uma via de abertura de mercado capaz de impulsionar a modernização, ao mesmo tempo em que possuem preocupações quanto a padrões e normas ambientais e o impacto no setor agrícola, gerando assim uma expectativa mista.
A posição oficial do governo da Bulgária tem sido consistente ao longo das negociações: apoiar a conclusão e ratificação do acordo, desde que ele preserve equilíbrio entre abertura comercial e proteção dos setores vulneráveis. Esse posicionamento foi reafirmado por autoridades governamentais, como o ex-presidente Rosen Plevneliev, que destacou o potencial do tratado para gerar “resultados positivos sérios” para a economia búlgara. Mais recentemente, membros do Executivo voltaram a reforçar o compromisso do país com a finalização das negociações, ressaltando que o acordo deve incluir salvaguardas para agricultores e critérios ambientais robustos. As oposições políticas, quando se manifestam, concentram críticas no risco de competição agrícola desleal e na necessidade de assegurar padrões ambientais elevados, mas não possuem força suficiente para barrar a ratificação caso o governo mantenha sua posição firme e equilibrada. No Parlamento Europeu, os eurodeputados búlgaros não têm figurado entre as vozes mais destacadas sobre o acordo, mas seguem a tendência de seus grupos políticos. Assim, a Bulgária se posiciona de maneira convergente ao governo nacional: favorável ao acordo, mas cautelosa em relação a suas cláusulas agrícolas e ambientais.
Na sociedade civil, destacam-se a atuação de associações agrícolas (BAALO, NGPA), câmaras de comércio e grupos empresariais voltados para exportações industriais (BCCI, BIA, ABBA), além de organizações ambientais (WWF, BEPF). ONGs ambientalistas, alinhadas a debates em outros países da União Europeia, exigem que o acordo estabeleça compromissos claros de sustentabilidade e respeito a padrões ambientais. As estratégias de atuação incluem lobby junto a representantes nacionais e europeus, elaboração de relatórios técnicos e campanhas de sensibilização pública.
A estratégia búlgara de intervenção se organiza em três pilares: econômico, social e ambiental. Economicamente, o acordo é visto como uma oportunidade concreta para fortalecer pequenas e médias empresas e expandir setores industriais estratégicos, como químicos, maquinário e instrumentos ópticos, com maiores oportunidades de exportação a custos reduzidos. Socialmente, a proteção das indicações geográficas representa um ganho cultural e econômico, estimulando turismo de nicho e fortalecendo cadeias locais. Ambientalmente, a existência de cotas e salvaguardas assegura proteção a produtores sensíveis, enquanto cláusulas de monitoramento e resposta rápida previnem distúrbios de mercado. Esses pontos se apoiam em dados sólidos: nos últimos dez anos, as exportações búlgaras para o Mercosul cresceram exportações €66,74 milhões e importações €544,35 milhões. A eliminação de tarifas em até 91% dos produtos favorece especialmente áreas industriais relevantes para a Bulgária. Assim, em termos retóricos, a Bulgária pode sustentar sua posição em três frentes: o apelo econômico, destacando geração de empregos, diversificação das exportações e fortalecimento das SMEs; o apelo ambiental, enfatizando padrões robustos e salvaguardas eficazes; e o apelo político, que defende uma abertura responsável, equilibrando integração internacional com a proteção de setores estratégicos.
Em conclusão, a Bulgária reafirma seu compromisso em contribuir de forma construtiva para a aprovação do Acordo União Europeia–Mercosul. Reconhecemos que a integração econômica não pode ser conduzida de maneira acrítica, mas sim por meio de uma abertura responsável, que assegure ganhos concretos sem comprometer a proteção de setores vulneráveis.
Referências
ANSA. 2024. EU Torn over Mercosur Deal as Talks Enter Final Stretch. November 28, 2024.
BTA. 2024. Bulgaria-Mercosur Trade Increased Significantly over Last 10 Years – Eurostat. June 3, 2024.
Bulgarian National Bank. 2024. Annual Report 2023. Sofia: BNB. Disponível em: https://www.bnb.bg.
Commission of the European Union. 2023. EU-Mercosur Partnership Agreement: Factsheet. Brussels.
Commission of the European Union. 2023. EU Trade Relations with Mercosur. Brussels: Directorate-General for Trade.
Euronews. 2023. EU-Mercosur Trade Deal: Opportunities and Concerns. Euronews.
European Parliament. 2024. Committee on International Trade (INTA) – Reports and Activities. Brussels.
National Statistical Institute of Bulgaria. 2024. Macroeconomic Indicators – 2024. Sofia: NSI.
President of the Republic of Bulgaria. 2016. President Rosen Plevneliev: The Signing of the EU-Mercosur Free Trade Agreement May Bring Great Positives to Bulgaria. Sofia, February 3, 2016.
*Luan Werneck Cesar Mathias da Costa
Graduando em Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas (OIMC – IESP/UERJ)